Este texto é parte do meu artigo inédito Smart "Brazil" - Tropicalizando o conceito de Cidades Inteligentes, que será publicado na próxima edição da revista Fonte da Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais – PRODEMGE. Aguardem a revista para ler o artigo na integra.
É notória a existência de uma correlação intrínseca entre cidades inteligentes e as tecnologias da informação e comunicação (TICs) aplicadas. Grande parte dos investimentos diretos nos projetos de Smart City é aplicada nas 5 grandes áreas listadas abaixo. Elas estão diretamente relacionadas às dimensões das cidades inteligentes citadas neste artigo e representam a tentativa de solução dos principais problemas urbanos atuais.
Transporte e mobilidade
Problemas de gestão de tráfego e transporte são reconhecidos como uma das áreas mais caóticas de uma metrópole (Batty et al., 2012). Excelentes resultados foram alcançados em projetos desenvolvidos neste campo. Cingapura, por exemplo, tem de longe um dos sistemas de transporte mais desenvolvidos do mundo. Ao combinar investimentos em infraestrutura moderna, sistemas de alta tecnologia e políticas públicas do país, Cingapura acabou por desenvolver um sistema de transporte público muito eficiente, com um índice de satisfação de 95% entre os usuários. Um programa complexo chamado “viajar inteligente” tem sido usado desde 1997. Ele incentiva os trabalhadores e as empresas a mudarem o horário de trabalho para promover o uso dos transportes públicos fora do horário de pico. Programas de gestão do tráfego em Tóquio e Seul também são referências relevantes para demonstrar os avanços nas pesquisas desenvolvidas nesta área, combinando inovação, engenharia e gestão aplicada.
Vídeo: Transporte público em Cingapura, uma verdadeira aula de Teoria Geral da Administração.
A Europa está também desenvolvendo soluções nesta área. Vários projetos surgiram ao longo das últimas 2 décadas, com um destaque especial para o compartilhamento de automóveis. A província de Veneza, na Itália, está colocada em terceiro lugar no ranking de cidades inteligentes no país devido ao seu projeto-piloto de compartilhamento de veículos na cidade de Mestre. Grenoble, na França, também é outro bom exemplo nesta corrida global para se tornar inteligente. Ela foi a segunda cidade francesa, depois de Nantes, a reintroduzir os bondes elétricos como uma estratégia para resolver problemas de congestionamento. Recentemente, o governo local de Grenoble lançou também um projeto ambicioso chamado Cité lib by HA:MO (mobilidade harmônica), uma parceria inédita entre 5 instituições: o governo municipal, a região metropolitana de Grenoble, a empresa francesa de energia EDF, a Cité lib, um operador local de compartilhamento de veículos, e a Toyota, fabricante japonesa de automóveis. Trinta estações de recargas foram instaladas na cidade para um total de 70 carros elétricos de alta tecnologia, disponibilizados pela montadora para o sistema. A ideia, baseada no conceito de compartilhamento de veículos, é promover a Interconectividade com os demais meios de transportes (bondes, ônibus, trens), preenchendo as lacunas entre as paradas dos transportes públicos e o destino final do passageiro dentro dos bairros (Toyota Global Newsroom, 2014). Grenoble é a primeira cidade escolhida pela Toyota para sediar o projeto HA:MO fora do Japão, o que o torna ainda mais especial.
“É uma grande oportunidade para a nossa comunidade testar por três anos, de forma exclusiva na Europa, um novo modo de mobilidade que não é apenas inovador, mas também econômico e ecológico”, afirmou Christophe Ferrari, presidente do Grenoble-Alpes Metrópole.
“Para se tornar a cidade do futuro, Grenoble deve ser economicamente atraente, e um lugar agradável para se viver. A mobilidade elétrica oferece uma boa medida de ambos, permitindo que diferentes tipos de transporte possam complementar uns aos outros”,
disse Christian Missirian, diretor da EDF Commerce Rhone-Alpes Auvergne.
Ambas as afirmações resumem não apenas a importância e os benefícios de investimentos em mobilidade, mas também a relevância das parcerias público-privadas para o desenvolvimento de novas soluções para cidades inteligentes.
Utilities: redes inteligentes e gestão dos principais recursos públicos
Atualmente, a gestão eficiente e eficaz dos recursos públicos é uma questão crítica para a sobrevivência das cidades (Jackson, 2011). Os desafios relacionados com a vida cotidiana em uma área urbana bastante populosa podem ser bem ilustrados se analisarmos os problemas na gestão e fornecimento de energia. Devemos considerar não somente o forte argumento a respeito da geração de energia mais limpa para reduzir o impacto ambiental, mas principalmente a ameaça real de um colapso econômico devido à falta de energia (Borlase, 2012). Não importa como os governos estão enfrentando o problema na geração de energia, mas desenvolver maneiras inteligentes de gerenciar esse recurso tem sido uma área de grande crescimento nas chamadas cidades inteligentes. Kashiwa-no-ha, uma cidade inteligente modelo no Japão, atingiu um nível bastante elevado no gerenciamento da sua rede de energia. O projeto foi patrocinado por dois grandes conglomerados globais: o Grupo Hitachi e a Mitsui Fudosan Co.
A gestão da coleta e tratamento dos resíduos urbanos (lixo) é outro grande problema para as grandes cidades, com um importante impacto socioeconômico. Exemplos neste setor nos ajudam também a compreender a importância de projetos-piloto em cidades inteligentes para desenvolvimento de estratégias e produtos para o futuro. A Envac AB, líder global em sistemas de coleta a vácuo de resíduos, com sede na Suécia, implementou um projeto ultramoderno de coleta e transporte a vácuo do lixo urbano no distrito de Eunpyeong, em Seul, na Coreia do Sul, tornando-se uma referência mundial para o futuro neste campo. O projeto inclui não somente a coleta automática a vácuo, mas também a estação de tratamento do lixo. O sistema, inaugurado em 2010, conta com mais de 29.000 metros de tubos espalhados pelo subterrâneo do bairro e tem capacidade de recolher diariamente 20 toneladas. Todo lixo não reciclável é derretido no final do processo, ao invés de ser incinerado, para reduzir o impacto ambiental.
Bem-estar e e-saúde
A telemedicina está revolucionando o setor de saúde em todo o mundo. A tecnologia da informação e comunicação aplicada à gestão eletrônica do paciente é a nova fronteira neste campo. Países como a Coreia do Sul, Cingapura, Egito e Arábia Saudita estão implementando sistemas on-line de gestão da saúde como uma solução para o rápido crescimento e envelhecimento da sociedade. Cidades inteligentes no modelo greenfield já nascem com estes conceitos em seu DNA. Empresas como a Cisco, GE, IBM, Panasonic e Telefónica estão fortemente empenhadas no desenvolvimento de soluções nesta área. Em Cingapura, o governo está testando o projeto “farmácia do amanhã”, um novo conceito de farmácias abertas ao público localizadas dentro dos hospitais, onde robôs selecionam e embalam medicamentos personalizados para cada paciente (cliente), de acordo com uma prescrição eletrônica enviada pelo médico, em tempo real, aumentando a eficiência do sistema, a comodidade para o paciente e principalmente regulando o mercado de venda de medicamento. Desta forma, os cidadãos podem ter acesso a medicamentos genéricos de qualidade a um preço muito mais acessível, uma vez que são negociados e comprados em grandes quantidades e sem embalagens e informações desnecessárias.
Outro exemplo interessante vem da cidade inteligente Songdo, na Coreia do Sul, onde 100% das residências já são entregues com o sistema de videoconferência da empresa Cisco. Os serviços de comunicação são administrados por uma empresa chamada Masterbell e, entre as soluções oferecidas, a videomedicina é uma das mais populares. Atualmente são disponibilizadas consultas de fisioterapia, psicologia e de medicina estética diretamente por videoconferência, sem a necessidade de o cidadão sair de casa para estas consultas ou tratamentos.
Educação
Uma das primeiras premissas do projeto de Cingapura é que é impossível construir uma nação inteligente sem pessoas inteligentes. A importância deste campo é clara e fundamental para se construir uma sociedade mais sustentável. O uso da tecnologia aqui é o ponto-chave para o desenvolvimento das estratégias. Em Songdo, um dos principais usos do sistema de teleconferência da Cisco é exatamente na área da educação, pois os moradores locais podem ter acesso a uma série de programas e cursos de capacitação diretamente em sua sala de estar, com uma interação completa via vídeo, com qualidade HD e em tempo real. Culinária, línguas estrangeiras e cursos de bricolagem são os mais populares. Estes cursos podem ser ministrados por professores, como é o caso do inglês para crianças, em que os professores transmitem suas aulas em tempo real diretamente do Havaí, ou podem ser também treinamentos propostos e ministrados pelos próprios moradores, como o caso dos cursos culinários, em que cada um apresenta sua receita aos vizinhos. Além disso, estudantes universitários têm mentores pessoais da Universidade de Yonsei para discutir suas decisões futuras de carreira e ajudar nas suas rotinas de estudo em casa.
Até onde chegaremos nesta corrida de alinhar a educação aos avanços tecnológicos? A Finlândia por exemplo, vai adotar a partir de 2016 a alfabetização via teclado, colocando a caligrafia cursiva como matéria opcional nas escolas, você concorda? Estive na Suécia para conhecer melhor os projetos, confiram no vídeo abaixo:
Governo Eletrônico
O conceito de governo eletrônico está ficando cada vez mais popular e hoje em dia é definitivamente um dos fundamentos de uma cidade inteligente. Portais web para interagir com os cidadãos e as empresas são cada vez mais populares. Outra tendência é a assistência on-line para todos os serviços oferecidos pelo setor público, com uma disponibilidade de 24 horas diárias e nos 7 dias da semana. Esta é provavelmente uma das áreas mais desenvolvidas entre as mencionadas antes, tornando-se um dos tópicos mais discutidos nos eventos mundiais do setor. O benchmarking é uma ferramenta forte usada para desenvolver e promover serviços de governo eletrônico. Recentemente, dois projetos – em Minsk, na Bielorússia, e em Astana, no Cazaquistão – foram implementados pela Wego com base em experiências semelhantes em cidades do Japão e da Coreia do Sul. O Brasil já conta com um conselheiro da Wego responsável pela análise e implantação de projetos de governança eletrônica que estão sendo disponibilizados para todos os municípios.
Este foi nosso ultimo post com os fragmentos do nosso artigo completo. O último assunto, que é a cereja do bolo é a realidade das Smart Cities no Brasil, que vamos deixar para vcs lerem em Janeiro no artigo: Smart "Brazil" - Tropicalizando o conceito de Cidades Inteligentes, que será publicado na edição de Janeiro de 2016 da revista Fonte da Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais – PRODEMGE. Aguardem a revista então para ler o artigo na integra.
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Bem-estar e e-saúde
Renato de Castro
Smart City Expert
Italy,
He has 20+ years of professional experience in developing market entry strategies and managing investments attraction to smart cities development worldwide and he is mentoring and advising startups for "going-global" strategies.
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