Smart "Brazil" - Tropicalizando o conceito de Cidades Inteligentes.

Este texto é parte do meu artigo inédito que será publicado na próxima edição da revista Fonte da Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais – PRODEMGE. Aguardem a revista para ler o artigo na integra.

 

O mundo está enfrentando um aumento incrível de problemas urbanos, devido ao crescimento da população. A gestão dos recursos naturais, condições ambientais, políticas industriais e do poder econômico moldaram as cidades e influenciaram diretamente o estilo de vida urbano moderno. De acordo com relatórios das Nações Unidas, em 2030 mais de 70% da população mundial estarão concentrados nas chamadas cidades globais, impondo mudanças dramáticas em nossas vidas. Como uma tentativa de resolver estes problemas, estamos passando por uma forte orientação em ambos os setores, público e privado, para o desenvolvimento de “Cidades Inteligentes”. Cidades antigas estão sendo adaptadas em todo o mundo, a fim de se tornarem mais sustentáveis. Além disso, algumas cidades estão sendo construídas do zero, 100% projetadas e orientadas para serem inteligente desde a sua planta.

A Índia anunciou recentemente um projeto multibilionário para reestruturar e construir 100 cidades inteligentes.

China e Coreia do Sul já têm novas cidades totalmente operacionais. Independentemente da complexidade, fase de desenvolvimento ou quantidade de investimentos, a semelhança mais notável entre as cidades inteligentes é o uso intenso de tecnologias de informação e comunicação - TICs.

 

Definindo cidades inteligentes

 O desenvolvimento do conceito de cidades inteligentes não é apenas uma tendência da moda; elas são uma necessidade para toda a civilização, como uma solução sustentável para a vida urbana (Townsend, 2013). O conceito de cidade inteligente é tão vasto e abstrato que um entendimento completo e preciso só pode ser obtido se várias definições, de diferentes autores, origens e datas, são analisadas em conjunto. Hollands (2008) declarou: “nós sabemos muito pouco sobre as chamadas cidades inteligentes, particularmente em termos do que o rótulo ideológico revela sobre elas”.

Uma das primeiras referências remonta à década de noventa. O termo “crescimento inteligente” está relacionado com uma experiência nos Estados Unidos da América para regular políticas de incentivo para o desenvolvimento das cidades. Portland, em Oregon, é um exemplo bem-sucedido desses primeiros modelos (Seltzer e Cotugno, 2005).

Glaeser (2011, p.227), economista de Harvard, um dos pensadores urbanos mais relevantes da atualidade, também destaca vários projetos em todo o mundo de cidades inteligentes. Nos EUA, ele explora os esforços de Boston no desenvolvimento de uma revolução urbana e porque ela é reconhecida como uma Smart City. Em sua pesquisa, ele também analisou outros projetos importantes nos EUA, como os de Chicago e Atlanta. Ele menciona Cingapura como um dos principais casos de sucesso de cidades inteligentes resultantes de uma excelente gestão governamental (Glaeser, 2011, p.231-241).

Analisando a realidade do Reino Unido, Power (2007) usa Birmingham como um estudo de caso para provar que as soluções para os novos desafios urbanos estão em “crescimento inteligente e revitalização dos bairros”, levando as cidades tradicionais a um novo nível de vida urbana.

Cidade inteligente é também definida como uma “cidade” que utiliza tecnologias de informação e comunicação (TICs) para reestruturar os componentes básicos da infraestrutura e serviços essenciais de uma cidade, como administração pública, educação, saúde, segurança, setor imobiliário, transporte e serviços públicos, de uma forma mais consciente, interativa e eficiente (Bélissent,2010).

O Intelligent Community Forum (ICF), um web-portal especializado no tema, define Smart City como “cidades e regiões que utilizam a tecnologia não apenas para economizar dinheiro ou fazer as coisas funcionarem melhor, mas também para criar empregos de qualidade, aumentar a participação do cidadão e se tornar ótimos lugares para se viver e trabalhar”.

Basicamente, podemos encontrar três tipos de cidades inteligentes que Bélissent (2010) vê como evidências das etapas de desenvolvimento:

 

Smart City por Retrofit

 Este é o modelo clássico aplicado em todo o mundo, com ênfase especial nos Estados Unidos e na Europa, tendo por base repensar a arquitetura urbana, aplicando as TICs para atualizar e gerenciar os recursos básicos, serviços públicos ofertados e governo eletrônico, e promover uma mudança no comportamento urbano dos seus cidadãos. Existem vários rankings publicados classificando o estágio de desenvolvimento das cidades inteligentes ao redor do mundo. Os resultados podem variar de acordo com a metodologia de análise. Cohen (2014) desenvolveu uma metodologia original para analisar projetos de cidades inteligentes, e publicou recentemente uma lista com as seis melhores cidades inteligentes mundiais. Estas cidades estão desenvolvendo as melhores estratégias para utilizar as tecnologias disponíveis para promover uma experiência de vida urbana com mais qualidade, priorizando a promoção da igualdade e uma maior participação do cidadão no processo de gestão pública. Elas são: Barcelona (Espanha), também conhecida como capital mundial da telefonia móvel; Copenhagen (Dinamarca), famosa por sua cultura e projetos de ciclismo e de energias renovadas; Helsinki (Finlândia), por sua tecnologia digital e projetos de redes inteligentes; Cingapura (Cingapura), o único projeto reconhecido como nação inteligente; Vancouver (Canadá), cidade verde e de projetos de energia renovável; e Viena (Áustria), que avança rápido na lista para se tornar um líderes mundiais neste campo, executando atualmente mais de 100 projetos de Smart City. Os nomes foram organizados em ordem alfabética. O autor também destaca o que ele chama de “Cidades Inteligentes emergentes”, novos projetos que tiveram um excelente desempenho ao longo dos últimos anos. Entre eles, temos Brisbane (Austrália), Los Angeles (EUA) e Montreal (Canadá). Duas cidades sul-americana, Bogotá e Lima, também são citadas como casos que o autor intitula como “Cidades em Ascensão”.

 

Vídeo: Projeto Smart-nation de Cingapura do meu programa Executivo Global do Administradores.com 

Outro ranking de destaque foi publicado pela empresa inglesa de pesquisas Juniper Research, no início de 2015. Para a pesquisa foram analisadas as principais habilidades das cidades no gerenciamento das redes elétricas inteligentes, coordenação inteligente do trânsito, gestão da iluminação pública, uso sistêmico das TICs e coesão social. A lista aponta como as cinco principais cidades inteligentes do mundo: Barcelona, mais uma vez no primeiro lugar da lista; Nova York, aparecendo pela primeira vez em um ranking de Cidades Inteligentes, mas que vem se destacando com seus projetos voltados à gestão do meio ambiente e de dados abertos, fomentando a participação popular na gestão pública; Londres, que vem investindo muito na chamada economia criativa; Nice, na França, com projetos reconhecidos de mobilidade urbana e altos investimentos desde 2008 em diversificação da economia, inovação e novas tecnologias; e Cingapura.

 Em dezembro de 2014, um estudo sobre cidades inteligentes da renomada empresa americana Navigant Research revelou que o mercado prevê um crescimento nos investimentos em projetos de cidades inteligentes, dos US$8,8 bilhões gastos em 2014 para mais de US$ 27 bilhões previstos para 2023. Outra gigante americana do setor de pesquisas, a MarketsandMarkets, prevê que estes números possam chegar em breve à casa dos trilhões de dólares, se considerarmos também os investimentos em projetos de casas inteligentes e TICs aplicadas à educação e saúde. Incluindo estes setores, o crescimento saltará dos US$ 411,13 bilhões em 2014 para US$ 1,14 trilhões já em 2019. Isso ainda sem considerar que, a partir de 2020, teremos provavelmente o lançamento da internet 5G, que causará uma revolução na chamada internet das coisas. 

 

Novas cidades (projetos greenfield)

 São projetos de cidades inteligentes que nascem do zero e são 100% planejadas para serem funcionais em todos os seus âmbitos. Estes projetos contam com orçamentos impressionantes e estão sendo desenvolvidos principalmente pelas novas economias ricas emergentes, como a Índia, a Rússia, a China, os Emirados Árabes Unidos, a Arábia Saudita e a Coreia do Sul.

Um dos projetos mais desenvolvidos é a cidade de Songdo, na Coreia do Sul, um projeto de dez anos com investimentos superiores a US$ 35 bilhões para apenas uma cidade, que se tornou uma espécie de benchmarking para outros projetos em todo o mundo. Segundo os responsáveis pelo projeto, eles estão atualmente prestando consultoria para os Emirados Árabes Unidos no desenvolvimento do projeto chamado cidade de Masdar, outro excelente exemplo de projeto greenfield.

Vídeo: Visita com o Sebrae MG á cidade inteligente de Songdo - Coreia do Sul. 

O principal obstáculo para um país desenvolver este tipo de projeto é encontrar áreas geográficas estratégicas que ainda não estejam ocupadas e promover as parcerias público-privadas para torná-lo executável. Estes projetos estão no nível de estado da arte e definitivamente não são criados pensando em um retorno econômico rápido. Novos projetos vibrantes, como PlanIT Valley (Portugal) e Neapolis (Chipre), são alguns poucos exemplos encontrados no velho continente, que foram anunciados antes da grande crise de 2008 e acabaram por não evoluírem na velocidade prevista.

A Arábia Saudita ilustra bem o apetite do Oriente Médio em se destacar mundialmente nos projetos greenfield de cidades inteligentes, com os seus quatro projetos de US$ 70 bilhões.

A primeira cidade já em estado avançado de desenvolvimento é a King Abdullah Economic City (KAEC), localizada na costa do Mar Vermelho. Estima-se que estará plenamente em operação em 2025, consumindo mais de 35% do orçamento total que a Arábia Saudita destinou para os seus quatro projetos. Townsend (2013) refere-se a esta tendência de projetos greenfield como “A Aposta de 100 bilhões de dólares”, quando ele explica a ansiedade da Coreia do Sul em relação à ascensão da China moderna como uma ameaça à sua indústria de alta tecnologia, destacando a importância, para eles, do projeto Songdo. Outra nação que tem ganhado notoriedade mundial com seus projetos de cidades inteligentes é a Índia. No final de 2014, seu primeiro-ministro anunciou que o país disponibilizaria um grande orçamento para investimentos em 100 projetos, entre a restruturação de cidades tradicionais (retrofit) e a construção de novas cidades (greenfield).  

 

Projetos independentes também conhecidos como “noncity”

 Nesta fase, os teóricos consideram outras estruturas organizadas, tais como universidades, cidades-empresa e parques de diversões como o Disney World (Bélissent, 2010). Na verdade, estas estruturas administram um sistema tão complexo e integrado que também podem ser consideradas uma cidade. O campus da UNAM - Universidade Nacional Autônoma do México, no México; a cidade da Toyota, no Japão; a empresa Saudi Aramco, companhia nacional de petróleo da Arábia Saudita; e o Disney World, citado anteriormente, são bons exemplos desses projetos.

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About the author

Renato de Castro

Smart City Expert

Italy,

He has 20+ years of professional experience in developing market entry strategies and managing investments attraction to smart cities development worldwide and he is mentoring and advising startups for "going-global" strategies.

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