Ampliando o conceito de Cidade “Inteligente”

Este texto é parte do meu artigo inédito Smart "Brazil" - Tropicalizando o conceito de Cidades Inteligentes, que será publicado na próxima edição da revista Fonte da Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais – PRODEMGE. Aguardem a revista para ler o artigo na integra.

 

O Intelligent Community Forum (ICF), um web-portal especializado no tema, define Smart City como:

“cidades e regiões que utilizam a tecnologia não apenas para economizar dinheiro ou fazer as coisas funcionarem melhor, mas também para criar empregos de qualidade, aumentar a participação do cidadão e se tornar ótimos lugares para se viver e trabalhar”.

Independentemente da complexidade ou do estágio de desenvolvimento, a semelhança mais notável entre as cidades inteligentes é o uso intenso de tecnologias aplicadas (Nam e Pardo, 2011). Esta perspectiva também traz uma nova dimensão para a compreensão do conceito “Smart City”. De acordo com Schaffers et al. (2011), quatro conceitos podem também ilustrar o contexto:

 

Cidades cibernéticas

A partir do ciberespaço, da cibernética, de governança e do controle de espaços com base no feedback da informação. O conceito está bastante relacionado ao governo eletrônico e ao acesso a dados e informações na cidade. Este conceito pode ser interpretado também sob o ponto de vista negativo ou obscuro do ciberespaço, como os tópicos relacionados aos cibercrimes, rastreamento, identificação e a possibilidade de controle militar ou civil sobre as cidades. Existe uma grande corrente crítica à tendência das cidades inteligentes que discute a grau de dependência dos projetos de Smart City desenvolvidos unicamente com base em um grande fornecedor, como o caso dos projetos implementados e gerenciados por empresas como IBM e Cisco, que se destacam neste setor. 

 

Cidades digitais

A partir da representação digital de cidades, cidades virtuais, metáfora digital das cidades, cidades de avatares, cidades Second Life e simulação (SIM) da cidade. Este conceito começa a tomar forma e consistência a partir do aumento da importância da internet no cotidiano das pessoas. Realidade aumentada e virtual passam a fazer parte das nossas rotinas e as cidades tendem a se adaptarem a esta realidade. O conceito vem evoluindo principalmente desde os anos 2000. 

 

Cidades colaborativas

A partir da nova inteligência das cidades, da inteligência coletiva dos cidadãos e do conceito de inteligência distribuída. O termo está diretamente associado ao princípio do crowdsourcing, colaboração on-line e inovação. Passa a ser um grande capital social das cidades, que estão cada vez mais investindo na aprendizagem colaborativa e inovação. Novas soluções emergem deste contexto e acabam por promover uma mudança profunda na vida da sociedade. Os aplicativos Uber, considerado hoje a maior empresa de táxis do mundo, e Airbnb, para compartilhamento de quartos, funcionando como um sistema de hotelaria alternativa, são exemplos icônicos deste movimento. Outro projeto que está tendo uma grande repercussão e sucesso mundial é o FabLab, do MIT - Massachusetts Institute of Technology, que são laboratórios de produção semi-industrial que permitem a prototipagem de produtos a baixíssimos custos e sem necessidade de escala. Os FabLabs são normalmente subsidiados pelo poder municipal e instalados nos bairros das grandes cidades e atendem à população local. Nestes locais, além de os cidadãos poderem desenvolver seus produtos experimentais, eles também aprendem a utilizar as máquinas do laboratório. Podemos dizer que se trata de uma pequena indústria colaborativa. No Brasil, já podemos encontrar onze FabLabs, localizados em Belo Horizonte, Brasília, Belém, São Paulo, Florianópolis, Recife e Rio de Janeiro.

Eu fui conhecer o pessoalmente o projeto Fablab de Lisboa:

 

 

Cidades Conectadas

A partir de telefones inteligentes, dispositivos móveis, sensores, sistemas embarcados, ambientes inteligentes, contadores inteligentes e instrumentação que sustentam a inteligência das cidades. Conectividade e acesso à internet é um dos grandes temas discutidos e presentes na pauta de investimento de quase todas as cidades no mundo atualmente. Redes gratuitas públicas de wi-fi vêm se multiplicando e se tornando um grande atrativo quando se analisam as possibilidades de investimentos nas cidades ou até mesmo na avaliação do potencial de atração turística. Mas sem dúvida a questão mais relevante, quando se trata da tipologia de cidades conectadas, está relacionada ao conceito de IoT, ou Internet das coisas. Os números neste setor são perturbadores. Em sua coluna de tecnologia para a renomada revista Forbes, Press (2014) revela alguns dados surpreendentes. Somente no setor industrial, a empresa General Electric prevê que a internet industrial tem um potencial de gerar de 10 a 15 trilhões de dólares americanos ao PIB mundial nos próximos 20 anos. Já a Cisco prevê que a chamada “Internet de Tudo” criará um valor econômico de US$ 19 trilhões em 2020. A empresa ABI Research previa que em 2014 os equipamentos wireless superariam os 16 bilhões de unidades, representando um crescimento de 20% se comparado a 2013, e que este número deve superar os 40 bilhões até 2020. Para a Acquity, empresa do Grupo Accenture, mais de dois terços dos consumidores planejam comprar tecnologia relacionada a conectividade (IoT) para suas casas até 2019. Neste mesmo segmento, a Naviant Research ressaltou em um estudo recente que o número de medidores inteligentes instalados em residências vai saltar de 313 milhões de 2013 para 1,1 bilhões em 2022. A empresa On World Inc, especializada em inteligência de mercado no setor de tecnologias inteligentes, revelou, em um estudo sobre iluminação sem fio inteligente, que o consumo deste produto tem crescido a taxas superiores a 250% ao ano e que, para 2020, teremos mais de 100 milhões de lâmpadas inteligentes conectadas à internet, sendo um dos produtos da IoT que mais crescerão em consumo na próxima década. 

Um grande exemplo de Smart City 100% conectada é Seoul, a capital da Coréia do Sul. Eles provavelmente serão so primeiros a implantar a próxima geração de  sistema de telefonia celular chamada de 5G, que virá com uma velocidade 1000x mais rápida que a atual 4g e tornará possível o sonho da IOT, ou como chamamos no Brasil, Internet das Coisas. Confiram neste programa que eu fiz sobre Seoul:

 

 

O setor automotivo também tem sido alvo de grandes investimentos no que se trata de conectividade à internet. A empresa de pesquisas americana IHS Inc apresentou, durante a feira automotiva de Detroit de 2014, estimativas otimistas que apontam um crescimento de 6 vezes no número de veículos conectados à internet, de 23 milhões em 2013, para 152 milhões previstos para 2020, enquanto que a financeira Morgan Stanley publicou um relatório completo direcionado a investidores sobre os benefícios econômicos dos veículos autônomos, também conhecidos como carros robóticos ou carros sem motorista, prevendo que esta tecnologia poderá trazer uma economia anual de US$ 1,3 trilhões somente nos EUA, podendo chegar a cifras superiores a US$ 5,6 trilhões no mundo inteiro. Estas economias incluem redução no número de acidentes, redução no número de mortes, aumento na mobilidade para idosos e portadores de deficiência física e visual e redução de congestionamentos e no consumo de combustíveis. Os benefícios são tão animadores que se estima que a indústria automobilística esteja utilizando uma parte significativa dos US$ 100 bilhões que são investidos anualmente em pesquisa e desenvolvimento. 

 

Um dos projetos mundiais mais representativos de cidade inteligente voltada à conectividade é o de Shenzhen, que pretende ser a primeira cidade IoT do mundo. Neste sentido, a China tem investindo forte no desenvolvimento de tecnologias relacionada ao IoT. Segundo a Accenture, o segmento de IoT poderá agregar cerca de 500 bilhões de dólares ao PIB chinês em 2030, elevando sozinho as projeções atuais do PIB para aquele ano em quase 0,5%. E, ainda mais, o estudo indica que, se a China acelerar os investimentos em infraestrutura para absorver o crescimento em IoT, este impacto no PIB poderá chegar a 1,3%, representando 1,8 trilhões de dólares adicionais a sua economia em 2030.

 

O tema é tão abrangente e atualizado que até os grandes gurus da estratégia estão explorando o assunto. Porter e Heppelmann (2015), em seu último artigo publicado em outubro de 2015, na Harvard Business Review, avaliam os impactos do IoT na estrutura organizacional das indústrias. As consequências podem ir além do acirramento da concorrência, como Porter mesmo havia proposto em seu artigo de novembro de 2014, influenciando e redimensionando profundamente o modelo de negócio atual.  

"A verdade é que podemos comparar toda esta 'salada' de definições com um cubo mágico, no final são todas facetas de uma mesma idéia, só precisamos é fazer o dever de casa".

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About the author

Renato de Castro

Smart City Expert

Italy,

He has 20+ years of professional experience in developing market entry strategies and managing investments attraction to smart cities development worldwide and he is mentoring and advising startups for "going-global" strategies.

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